Como a maioria de vocês sabem , há dois anos atrás eu e minha mãe participamos de uma saga para retornar de Nova York. (A história completa está publicada aqui na A.J.C, com o título "The Wedding Dress", é longa mais vale a pena lê-la antes de continuar com essa aqui). Esse ano, há dois dias atrás, a saga ameaçou se repetir, dessa vez em Londres...
A mãe e a filha ousaram viajar novamente, mesmo tendo claramente na memória as lembranças do sufoco de sua última tentativa. A viagem em si correra bem. Graças a um aplicativo de notícias no celular ambas souberam com antecedência que os trens Eurostar estavam parados devido a um frio absurdo para o mês de março e escaparam do que poderia ter sido um desastre em meio a muita neve.
Mas ainda havia um último desafio: voltar para casa. Nada poderia dar errado dessa vez. Elas chegaram ao aeroporto com quatro horas de antecedência e tiveram tempo de sobra para se organizar. Foram ao free shop, à livraria, ao restaurante e, por fim já cansadas, sentaram-se no saguão central do aeroporto e ficaram a olhar a tela que informava os horários de voos e o tempo de deslocamento até os seus respectivos portões.
"Nada pode dar errado agora." pensou a filha. "O voo está confirmado, nós estamos prontas para embarcar... O pior que poderia acontecer é eles avisarem de última hora que o nosso portão é o 79 - 90 e nós termos que andar meia hora pra chegar até eles. Mas nããão... Não vai acontecer, bora pensar positi..."
-Filha... Filha... Essa não! Olha lá! Olha lá!
E eis que vindo na direção delas, uma moça alta, loura, acompanhada por um rapaz solícito. O braço da moça erguido sobre a cabeça... Nos dedos o cabide de metal e, pendurado nele, o protetor de vestido branco. O vestido de noiva retornara.
-Não! Não! Outra vez não! Por favor! - exclamou a filha. - Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar! Não pode!
-Por favor, que eles não estejam no nosso voo, por favor!
-Ela não tem cara de brasileira, deve estar indo para...
Uma rápida consulta informa à filha os próximos voos: os cinco países asiáticos, quatro árabes, Lisboa, São Paulo, Rio de Janeiro...
"Não! Por favor não! Tem que ter algum país no norte da Europa!"
A salvação: um único voo para Frankfurt.
-...Frankfurt! Olha a cara de alemã dela.
-Isso! - responde a mãe. - Tem que ser isso!
Os auto falantes chamam os passageiros do voo Tam com destino a São Paulo para se dirigirem aos portões de embarque. Era chegada a hora da verdade.
Mãe e filha se levantam. A noiva as acompanha. O medo cresce. A noiva olha duas cadeiras vazias no saguão central e as indica para o noivo. Ambos se sentam. O vestido repousando no colo de ambos.
As brasileiras respiram aliviadas. A ameaça passou.
Moral da história: Nunca, mas NUNCA mesmo, diga que nada pode dar errado até que a situação tenha terminado de fato.