segunda-feira, 14 de março de 2011

The Wedding Dress - a historia

Bom, enfim cheguei sã e salva a minha casa. Conforme o prometido vou continuar a nossa pequena saga no aeroporto de Nova Iorque e suas proximidades. Peço desculpas pelos erros de gramática no prólogo, como disse, estava com muita pressa.

Os pasageiros chegaram cedo no aeroporto JFK de Nova Iorque, por volta das 5:00 da manhã, a fila do check-in da companhia brasileira Tam já começava a se formar. Podía-se ver ao longe uma mulher com um braço estendido por tras da cabeça em direção ao teto segurando um cabide envolto por um pano branco, deduziu-se que seria um vestido de noiva, e que a dia cuja o segurava alto para não arrastar no chao nem amassá-lo.
"Não sei como ela vai conseguir colocar esse vestido no avião sem amassar" comenta uma garota com sua mãe.
Aos poucos a fila se desloca e todos os passageiros se dirigem calmamente para o embarque e todos aqueles tediosos procedientos de segurança comuns em qualquer lugar dos EUA.
Um pouco atrasado, como de costume, inicia-se o embarque na aeronave e todos se sentam, alguns até mesmo tiram um cochilo.
Ouve-se a voz chiada do piloto:
"Senhores passageiros, sua atenção, por favor. Foi detectado um problema numa peça, e a aeronave deverá passar por uma manutenção. Pedimos aos senhores que permaneçam sentados pois haverá deslocamento da aeronave pelo pátio. A manutenção deverá causar ao voo o atraso de uma hora a uma hora e meia."
Os passageiros soltam aquele suspiro resignado, afinal, nada se pode fazer.
Passa-se uma hora, uma hora e meia, talvez um pouco mais ou um pouco menos. Novamente a voz chiada do piloto é ouvida.
"Senhores passageiros, sua atenção por favor. O problema detectado é mais grave do que imaginamos. A peça necessitará ser substituída e não há outra de mesmo modelo na cidade. Já nos foi informado que existe a peça numa cidade vizinha e que demorará cerca de cinco a oito horas para chegar. Os senhores podem se retirar e voltar ao aeroporto onde deverão pegar seus cartões de re-embarque. A Tam também fornecerá vele-almoço para todos os passageiros. Suas bagagens permanecerão na aeronave. Obrigado"
Os comentários de desaprovação eram gerais. Os cintos foram desafivelados e, reclamando muito, as pessoas começaram a se deslocar de volta ao saguão do aeroporto. Aqueles que precisariam pegar conexão ao chegar no Brasil já perdiam as esperanças de voltar para casa naquele mesmo dia.
Fila para sair, fila para o vale-almoço, fila para informações, enfim, até aí não é problema, pois todos sabemos que por alguma razão misteriosa as pessoas gostam de se enfileirar, em especial quano há alguma situação incomum.
A noiva passara a árdua tarefa de carregar o vestido para ninguém menos que o próprio noivo, ou pelo menos era o que diziam as pessoas, pois ninguém tinha realmente certeza se o vestido era de noiva, que dirá se o rapaz que a acompanhava era seu futuro esposo. Uma menina de quatro anos pacientemente esperava em seu carrinho, um exemplo de comportamento para qualquer um da idade dela. Uma pequena família cuidava de uma garota de cadeira de rodas, e muita gente ainda continuava na fila. Havia um grupo de americanos, um grupo de cerca de 30 brasileiros, entre eles uma garota que segurava um gato de pelúcia e um senhor que aparentava ser líder do grupo. Duas mães e duas filhas que nunca antes haviam se visto, conversavam como boas amigas. Uma famíla composta por quatro pessoas, uma mãe, um pai e dois meninos riam nervosamente da situação. Uma menina e um menino brincavam com jogos eletrônicos. E a fila era longa.
"Atenção passageiros do voo Tam com destino a São Paulo. Seu voo foi cancelado e todos vocês devem acompanhar a funcionária Jaira (lê-se Raia) até o hotel."
Dessa vez o xingamento foi alto. Via-se a preocupação o rosto de todos. Ninguém saiu da fila.
"Senhores passageiros, favor acompanhar a funcionária Jaira até o hotel."
Em uníssono a multidão gritou:
"E cadê a Jaira?!"
A maioria dos presentes deram boas risadas. Um braço fino se ergueu na multidão e uma mulher uniformizada apareceu. O pai da família de quatro pessoas abraçou Jaira e gritou:
"Tá aqui! Achei a Jaira! Vambora!!!"
A funcionária foi na frente, liderando o grupo de 200 e poucas pessoas. Ninguém sabia para onde estavam indo, nem mesmo os funcionários da Tam. Poucos sabiam onde estava Jaira, tão pequena em meio a multidão.
"Cadê a Jaira?" perguntou alguém.
"Não sei, não consigo ver." respondeu outra pessoa.
"Segue o fluxo." disse uma mulher.
"Ou o vestido de noiva." respondeu uma mãe, apontando para o pano branco no cabide carregado no alto da cabeça pelo 'noivo'.
Muitos riram. Jaira parou em frente a uma porta daquelas ultra-modernas, por onde chegaria uma espécie de trem.
"Descam na estação C, Federal Circle" disse Jaira com uma voz baixa.
"Dá licença Jaira, que tua voz é muito baixinha, então vou te ajudar que a minha é mais alta." uma mulher tomou o lugar da funcionária e gritou a plenos pulmões:
"Gente! Aqui! Silêncio por favor! A voz da Jaira é muito baixinha então vou dar uma ajuda aqui. É pra gente descer na estação C..."
"C de casa pessoal, vamo pra casa, pensem assim!" interrompeu uma mulher.
"Federal...Circle... O pessoal aí do fundo ouviu?"
A partir do homem com o vestido de noiva, todos gritaram:
"Não!"
"Então pera que tô indo aí!"
Aos trancos a informação foi passada. Os passageiros entraram em um trem, assustando os novaiorquinos ali presentes. Algumas estações depois, Jaira diz:
"É a próxima."
A mulher ao seu lado, que agora lhe servia de porta-voz, gritou:
"É pra descer na próxima, passa a mensagem adiante pra quem não ouviu."
De alguma forma miraculosa, todos desceram na estação certa e se dirigiram, sempre seguindo Jaira, até um local onde aparentemente era possível pegar vans e ônibus para os hoteis do aeroporto.
"Fiquem aqui que eu vou ver se consigo um ônibus" disse Jaira, a essa altura nem se importando mais em ser ouvida, sabia que a mensagem chegaria a todos mais cedo ou mais tarde.
Havia uma porta automática no local, e lá fora fazia um daqueles típicos frios novaiorquinos.
"Gente, fiquem para trás e não se mexam, vamos ver se conseguimos fechar a porta."
Todos obedeceram e, lentamente a porta se fechou. Apaludiram. Uma velha senhora americana passou. A porta se abriu. Todos soltaram um 'ahhhhh...'. A senhora provavelmente ficou com medo daquela gente.
Um outro funcionário da Tam apareceu, mal-humorado. Dizia que estava há 14 horas acordado e trabalhando. Alguém fez o pertinente comentário de que todos ali também haviam leventado muito cedo, e que, ao contrário do funcionário, estavam pagando e não recebendo por aquilo.
Vinte ou trinta minutos depois, Jaira volta e chama apenas vinte passageiros. É o máximo que cabe na van. Um menino rapidamente faz os cálculos e deduz que seriam necessárias no mínimo dez viagens para que todos conseguissem chegar no hotel. E isso ainda nem bem era 10:30 da manhã.
Por volta do meio dia e meia, todos já estavam no hotel. Havia uma placa dizendo que seria servido almoço a 1:00. Jaira disse que só conseguiria mais informações a respeito do voo as três horas.
O almoço passou, o começo da tarde também. Por volta das três e quinze, Jaira informa os passageiros que o voo estara marcado para as 5:00 da manha do dia seguinte. Mais relaxados, alguns passageiros retornam a Manhattan ou vão passear pelo Queens, onde ficava o hotel. Ningém se lembrou de informá-los que no dia seguite começaria o horário de verão.
As seis da tarde surge um novo aviso no quadro improvisado que servia se informativo.
Voo cancelado por tempo indeterminado, os passageiros não devem deixar o hotel."
Alguém irritado, escreveu por cima da mensagem co caneta esferográica: Reunião dos passageiros as 20:00 no saguão do hotel.
Antes de voltarem para suas casas, Jaira e o funcionário de mal-humor dizem que as 9:00 da manha do dia seguinte, apareceria alguém da Tam para maiores informações.
Angustiados, os passageiros tentam de qualquer forma comprar passagem em algum outro voo. Alguns até mesmo ligam para suas famílias e pedem ajuda para ver se conseguiam algo do Brasil. Tudo lotado. O jeito era esperar.
A essa altura, mais da metade das duzentas pessoas já vestia camisetas ou casacos comprados na loja de souvenirs do hotel, por mais que no momento seus sentimentos fossem completamente antagônicos ao que dizia nas roupas, nelas se liam I love NY. Uma avó comenta com sua neta que no dia seguinte entrariam todos no avião com as mesmas roupas, como uma forma de protesto. A menina ria.
Jantaram, os que conseguiram dormir tiveram sorte e, no dia seguinte, as 8:00 da manhã, a maioria dos passageiros já estava no saguão do hotel. Até mesmo alguns garçons se solidariezavam e desejavam boa sorte. Ou talvez eles já estivessem com medo de uma despesa maior com tanta gente se hospedando de 'graça'.
Oito e meia um ônibus estaciona na porta do hotel, a princípio hesitantes e em seguida apressados, os passageiros correm para seus quartos e apanham seus poucos pertences, já que ninguém havia conseuido recuperar suas bagagens. Alguns entram no ônibus e perguntam:
"É para o voo da Tam?"
"Sim, entrem, entrem." dizia o motorista.
"Mas e o café da manhã?" reclamavam uns poucos passageiros que eram logo silenciados por outros, com o argumento de que quanto mais rápido voltassem para casa, melhor.
Durante a ida para o aeroporto de a fila do novo check-in, a conversa novamente caiu na noiva.
"Poxa vida. Coitado do noivo. Caregando aquele vestido, já dever estar com o braço sangrando."
"Imagina! Não é noivo, deve ser irmão, nenhum marido faria isso para a esposa."
"Puxa, essa deu sorte, noivo igual não vai achar nunca mais."
"Por que ela mesma não carrega?"
"Eles estão se intercalando, eu acho."
"Nem sei, só vejo o noivo carregando."
"Que noivo o quê! É irmão!"
"E que cunhado esse noivo arrumou, hein?"
"O cara só pode querer que a irmã vá embora logo de casa!"
"Agora eles vão ter que convidar a gente para o casamento, passamos um momento importante na vida do vestido."
"Eu mandaria benzer o vestido!"
"Nem precisa! Casal que passou por tudo isso junto não separa nunca mais!"
"O noivo já deve até ter olhado o vestido. A mulher gritando 'não! dá azar!' e ele 'xi, querida agora já era!'"
"Também a essa altura!"
Uma mulher desmaiou na fila. As pessoas começam a chamar um médico e cadeira de rodas, enquanto outras pessoas reclamam em alto e bom som para os funcionários:
"Viu só? Isso que dá não darem comida pra gente."
Minutos depois a mulher já estava melhor.
O embarque se realizou meio dia e meia. As conexões seriam apenas no dia seguinte. Muita gente perderia compromissos importantes.
Quando, dentro do avião, passou aquele famoso filme em que passageiros elgogiam a companhia aérea, alguém chegou a gritar:
"Ei! Que companhia é essa?"
O que levantou risos do pessoal.
Quando finalmente, após muita turbulência, pousou o avião em São Paulo, o povo aplaudiu.
Esse, é o jeito Tam de voar!

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