Era um dia muito bonito de sol, minha vó me convidou pra ir com ela no cemitério porque o dia seguinte seria dia dos mortos e ela queria deixar flores a eles. Ao chegar no cemitério ela comprava as flores na entrada enquando eu ia comprar uma água na lanchonete.
Finalmente o verão tinha começado, eu estava de rasterinha e uma blusa leve, e quando andava a caminho da lanchonete eu passei em frente a uma sala onde velavam um corpo. Fiquei muito tentada a olhar, mas resolvi respeitar a dor dos outros e abaixei minha cabeça e continuei andando.
Curiosamente, onde levantei minha cabeça foi a frente de um banco em que me lembrei a última vez que estiverá lá a seis anos atrás e cheguei da aula nervosa, e encontrei um conforto em um abraço e lágrimas sofridas juntas naquele banco. Sorri por pensar como a vida é versátil.
Comprei minha água, e observei todas as pessoas no cemitério. Ironicamente, pessoas de várias idades, todas sem saber qual seria o fim de suas vidas. Pensei no fim da minha própria, queria morrer em um dia como aquele, de sol, bonito e calor onde não daria espaço a melancolia e tristesas muito profundas.
Ao voltar passei novamente a frente da sala com o corpo, e conversas preencheram meus ouvidos, e me fizeram refletir. Minha vó ainda comprava flores quando fui ao seu encontro, então achei um banco afastado e me sentei.
Tirei minhas rasterinhas e deixei meu pé tocar o chão frio. Pela primeira vez a morte não me pareceu angustiante e sim uma consequência: da vida. Não foi associada ao sofrimento mas á dor, algo mais comum que respirar.
O que talvez mais me assustasse, fosse as coisas não feitas, o que se deixa para trás e óbviamente a dor. Mas talvez existam dores maiores que as dores físicas. "Viva enquanto viver. A morte perde seu verdadeiro terror quando consumida a própria vida. Você viveu sua vida ou foi vivido por ela."
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